Ecologia Trófica



Ecossistema inexplorado

O maior conjunto de tabelas na FishBase está relacionado com a ecologia trófica dos peixes e contém informação sobre o habitat, alimentação, consumo de alimento, composição da dieta e predadores das várias espécies de peixes. A tabela ECOLOGIA Froese et al (1992) apresenta também a tolerância ambiental e comportamento, mas apenas foram encontrados alguns dados padronizados. Essa informação está acessível no campo Notas da tabela ESPÉCIES.

A informação sobre a ecologia trófica está organizada da seguinte forma:


Gestão de um stock monoespecífico
  • a tabela ECOLOGIA apresenta informação sobre o ambiente. ex: massa de água em que a espécie habita e os seus hábitos alimentares (compreendidos os níveis tróficos);

  • a tabela ALIMENTO representa os itens alimentares que foram encontrados nos estômagos, ou que é sabido que a espécie ingere;

  • a tabela DIETA apresenta as percentagens (em peso ou volume) com que os diferentes itens alimentares contribuem para o bolo alimentar da espécie;

  • a tabela RAÇÃO apresenta o consumo diário de alimento por peso total do peixe amostrado, assim como os parâmetros relacionados;


Ausência de gestão
  • a tabela POPQB apresenta o consumo de alimento (Q) por unidade de biomassa (B) de uma população de peixes, e os parâmetros de dinâmica populacional utilizados no seu cálculo;

  • a tabela PREDADOR apresenta a percentagem (quando disponível) de uma espécie de peixe na dieta de uma espécie predadora, ou grupo de predadores.


Ecossistema gerido

Uma estrutra com vários níveis foi criada para estas tabelas. Os alimentos são descritos sucessivamente com mais pormenor, desde o campo Alimentos I (campo de escolha múltipla com 6 tipos principais de alimento), ao campo Alimentos III (55 tipos de alimento), e um campo intermediário Alimentos II (22 tipos de alimento), e ao campo. Esta estrutura permite introduzir informação sobre um dado alimento (e.g., nome da espécie ingerida) e destingue estádios (tanto para animais como para plantas). A tabela ALIMENTO fornece mais informação sobre esta estrutura, bem como sobre os níveis tróficos atribuídos aos diversos itens em Alimento I, II e III (ver a tabela ALIMENTO, neste volume) os quais podem ser utilizados para estimar níveis tróficos para peixes cuja dieta é conhecida.

Sabemos que estas tabelas, descritas em grande detalhe podem parecer arbitrárias. No entanto, como toda a estrutura da FishBase, elas provêm de sucessivos melhoramentos, resultantes de tentativas de integração de dados de inúmeros estudos. Sentimos que estas tabelas estão prontas na sua presente forma, e acomodarão numerosas entradas que pretendemos adicionar.

Caixa 19. A modelação utilizando o modelo Ecopath e a FishBase..

Desenvolvida no princípio dos anos 80 por J.J. Polovina e colaboradores do Laboratório NMFS em Honolulu, e aplicada inicialmente a um sistema de recife de coral no Norte do Havai (Polovina 1984), a abordagem Ecopath para a construção e análise de modelos tróficos de transferência de massa foi de sguida aprofundada por outros autores. Foi alargada para incluir uma maior variedade de rotinas analíticas e aplicada a uma variedade de sistemas (Christensen & Pauly 1992, 1993; Pauly & Christensen 1993; Christensen & Pauly 1995; Pauly 1997). O modelo Ecopath engloba as seguintes etapas:

  1. Definir a zona (ecossistema), o período e os grupos funcionais (i.e., as "caixas" ou variáveis de estado) que vão ser incluídos no modelo. Estas definições dependem sobretudo da quantidade de dados disponíveis;

  2. Para cada grupo funcional i, obter estimativas preliminares de todos os parâmetros, exepto um, da equação principal do Ecopath: Bi · (P/B)i · EEi = Yi + å Bj · (Q/B)j · DCij, onde Bi e Bj representam as biomassas de i e dos seus consumidores j, respectivamente; P/Bi a taxa produção/biomassa (i.e., a mortalidade de i (Allen 1971); EEi a fracção da produção de i (P= Bi(P/B)) que é consumida dentro do sistema; Yi as capturas de pesca; Q/Bj o consumo relativo de alimento; e onde DC<ij exprime a fracção de i na dieta de j;

  3. Utilizar as várias rotinas do Ecopath para resolver o sistema de equções lineares em (2) para todo o sistema; e

  4. Utilizar a rede de fluxos definida por este sistema de equações para determinar (ver Caixa 16) eficiências de transferência entre níveis tróficos, índices de selecção de nichos, estimativas da mortalidade natural (veja tabela "POPCRESCIMENTO", neste volume), etc.

O modelo Ecopath e a FishBase têm várias características em comum: o objectivo de colmatar as lacunas existentes entre a biologia das pescas e as disciplinas com ela relacionadas; a sua grande acessibilidade; uma vasta rede utilizadores e colaboradores; e, através destes, a criação de padrões para as suas respectivas disciplinas, modelação de ecossistemas no caso da Ecopath e Ictiologia aplicada no caso da FishBase.

Contudo, as relações entre Ecopath e FishBase não ficam por aqui. Por exemplo, os níveis tróficos agora incorporados na FishBase, e a rotina analítica que os liga às Capturas FAO são obtidos a partir de aplicações Ecopath (c.f. Pauly & Christensen 1995). Pelo contrário, as entradas da tabela ECOLOGIA TRÓFICA são destinadas em grande medida a ajudar os utilizadores Ecopath a obter estimativas preliminares dos parâmetros Q/B e DC do sistema de equações 2, enquanto que os valores de M na tabela POPCRESCIMENTO fornecem estimativas de P/B para stocks inexplorados. Uma rotina foi incorporada na FishBase (ver Relatórios, Miscelânea, parâmetros Ecopath) que junta estes parâmetros para uma região dada.

As sugestões dos leitores sobre estes tópicos podem ser enviadas para a FishBase (fishbase@cgiar.org), ou para Villy Christensen (v.christensen@fisheries.ubc.ca) que mantém o programa Ecopath. Ver também a homepage do site da Ecopath (www.ecopath.org), onde se pode actualizar o Ecopath e encontrar informações sobre a sua aplicação e a sua difusão.

Referências

Allen, K.R. 1971. Relation between biomass and production. J. Fish. Res. Board Can. 28: 1573-1881

Christensen, V. and D. Pauly. 1992. Ecopath II - a software for balancing steady-state ecosystem models and calculating network characteristics. Ecol. Modelling 61(3/4):169-185.

Christensen, V. and D. Pauly, Editors. 1993. Trophic Models of Aquatic Ecosystems. ICLARM Conf. Proc. 26, 390 p.

Christensen, V. and D. Pauly. 1995. Fish production, catches and the carrying capacity of the world oceans. Naga, ICLARM Q. 18(3):34-40.

Pauly, D. 1997. Méthodes pour l'évaluation des ressources halieutiques. Collection Polytech. Cépaduès Editions, Toulouse, 288p.

Pauly, D. and V. Christensen. 1993. Stratified models of large marine ecosystems: a general approach and an application to the South China Sea, p. 148-174. In K. Sherman, L.M. Alexander and B.D. Gold (eds.) Large marine ecosystems: stress, mitigation and sustainability. AAAS Publication, Washington, DC. 376 p.

Pauly, D. and V. Christensen. 1995. Primary production required to sustain global fisheries. Nature 374:255-257.

Polovina, J.J. 1984. Model of a coral reef ecosystem. I. The Ecopath model and its application to French Frigate Shoals. Coral Reefs 3(1):1-11.

Daniel Pauly e Villy Christensen

 
Agradecimentos

Um muito obrigado a Pascualita Sa-a pelas proveitosas sugestões de melhoramento da tabela DIETA, e a R. Froese pelo seu interesse pela ecologia trófica como um componente da FishBase.

Referência

Froese, R.; M.L.D. Palomares; D. Pauly, 1992. Draft user's manual of FishBase, a biological database on fish (ver. 1.0). ICLARM Software 7, pag. var.

Maria Lourdes D. Palomares e Daniel Pauly