A tabela PREDADORES

A tabela predadores refere-se aos predadores de uma espécie de peixe em particular. Esta tabela inclui o campo Localidade; Predador (classificação); Grupo De Predador e nome; Estado Da Presa e a sua contribuição para a dieta em termos de percentagem. A informação compilada nesta tabela, pode ser útil em termos de trabalhos de pesca e conservação, pois as relações predador/presa podem ajudar a explicar o estado de alguns stocks de peixes. Esta informação também pode ser utilizada para testar hipóteses acerca dos tamanhos relativos da presa e predadores (Caixa 23, veja também as Figs. 34 e 35).

Fontes
 
 
As relações predador/presa explicam o estado de alguns stocks de peixes

A tabela PREDADORES contém mais de 2000 registos para mais de 800 espécies, que foram extraídos de uma centena de referências tais como: Hiatt & Strasburg (1960), Randall (1967), Scott & Crossman (1973), Matthews et al. (1977), Ebert et al. (1981), Uchida (1981), Collette & Nauen (1983), Meyer & Smale (1991), Hensley & Hensley (1995) e Tokranov & Maksimenkov (1995). A classificação taxionómica das espécies predadoras destas referências foram confirmadas através do Taxonomic Code (Hardy, 1993) e da Taxonomic Authority List of the Aquatic Sciences and Fisheries Information System (de Luca, 1988).

Campos

A tabela PREDADORES consiste nos seguintes campos:

País/ Local: refere-se ao local onde o estudo foi efectuado.

Predador I e Predador II: Classificação do predador de acordo com as escolhas dadas na Caixa 23.

Grupo Predadores: é um campo de texto livre que se refere à família ou maior grupo da espécie de predadora.

Nome do predador: refere-se ao nome científico da espécie de predador.

Estado do predador: indica o estado de desenvolvimento do predador, com as seguintes opções: larvas, recrutas/juvenis, juvenis/adultos e adultos.

Estado da presa: refere-se ao estado de desenvolvimento das presas, com as seguintes opções: larvas, juvenis, juvenis/adultos e adultos.

Box 23. Hierarquia de predadores.

Para padronizar as escolhas fornecidas na tabela PREDADORES da FishBase, foi criada uma hierarquia análoga às escolhas Alimento I-III da tabela ALIMENTO (Caixa 22). As escolhas são:

 

Predador I

Predador II

cnidários

hidrozoários; cifozoários; anémonas; corais

moluscos

gastrópodes; lulas/chocos; polvos

crustáceos

copépodes; misidáceos; isópodes; anfípodes; estomatópodes; eufausiáceos; camarões; lagostas; carangueijos; outros crustáceos

insectos

insectos

equinodermes

estrelas-do-mar

peixes

tubarões/raias; peixes ósseos, n.i./outros peixes

répteis e anfíbios

salamandras/tritões; rãs/sapos; crocodilos; tartarugas; cobras

aves

aves marinhas, aves costeiras

mamíferos

baleias/golfinhos; focas/leões marinhos

outros

outros

 

Esta hierarquia inclui apenas os animais que consomem peixes e larvas normalmente. Os grupos que se alimentam de peixes apenas ocasionalmente (e.g., Avestruzes da América do Sul, Darwin 1845; ou tunicados que se alimentam de por ex. Vinciguerria) devem ser introduzidos na categoria "outros" e especificados no Pred. Group.

Referência

Darwin, C. 1845. Journal of researches into the natural history and geology of the countries visited during the voyage of H.M.S. Beagle. Murray, London.

 

Maria Lourdes D. Palomares, Pascualita Sa-a e Daniel Pauly

 

Nos campos Estado do Predador e da Presa a opção juvenis/adultos é considerada como default se não for especificado o estado do predador ou da presa.

% do conteúdo estomacal, refere-se à contribuição em percentagem do peso ou volume da presa no conteúdo estomacal do predador. Se a percentagem precisa em volume não está disponível, um indicador da frequência do item presa na dieta de um predador em particular é providenciado no campo seguinte: raro (1-5%); comum (6-20%), muito comum (21-50%), dominante (>50%).

O campo Observações é utilizado para descrever ou especificar o item presa que foi classificado como outros nos campos Predador I e II, ou outra informação que possa ser pertinente.

Caixa 24. Relações predador-presa para peixes.

A relação do tamanho dos peixes predadores com as suas presas foi a primeira análise que confirmou a capacidade da FishBase em testar hipóteses relativamente complexas, utilizando dados que não foram inicialmente colhidos para esse fim.

As hipóteses testadas são:

  • que as razões tamanho do predador : tamanho da presa são similares para peixes de espécies diferentes, e na proporção aproximada de 4:1 quando o tamanho é expresso em comprimento do corpo; e
  • e que os resíduos do tamanho médio do predador : tamanho da presa seguem uma distribuição log-normal, tal como postulado por Ursin (1973).

Os dados utilizados para testar estas hipóteses foram extraídos da tabela DIETA (foram introduzidos todos os casos em que a presa é um peixe, bem como o seu estado de desenvolvimento) e da tabela PREDADORES (foram introduzidos todos os casos em que o predador é um peixe, bem como o seu estado de desenvolvimento).

Muito poucos estudos, na literatura sobre o hábito alimentar, indicam o tamanho dos organismos ingeridos e por isso as tabelas DIETA e PREDADORES não incluem campos para esta informação. Na ausência de dados específicos de tamanho para cada estudo, o tamanho (= comprimento) dos predadores e presas foram estimados do seguinte modo:

  • para cada espécie, leia o comprimento máximo (Lmax) e o comprimento comum (Lcom) na tabela ESPÉCIES;
  • para predadores ou presas com estado de desenvolvimento "adulto", use Lcom. Se não está disponível use 2/3 de Lmax. [Esta decisão foi tomada após se verificar que nas espécies com as duas entradas, Lcom é em média aproximadamente igual a 2/3 de Lmax];
  • para todas as espécies com estado de desenvolvimento "juvenis e adultos", use ½ of Lmax;
  • para todas as espécies com estado de desenvolvimento "juvenis", use 1/3 of Lmax.

[Repare que este procedimento ignora os casos em que as presas são ovos ou larvas de peixes, e/ou em que os predadores são larvas]. Apesar de serem aproximações estas conversões produzem um padrão evidente (Fig. 34), que confirma a primeira parte da hipótese em (1). Também a média da razão predador : presa é cerca de 3.5, bastante perto do número 4 proposto na segunda parte da hipótese.

Talvez ainda mais interessante seja o segundo gráfico (Fig. 35), que mostra (em escala logarítmica) a distribuição de frequência da razão predador/presa. Como pode ser observado, esta aproxima-se de uma distribuição log-normal dos tamanhos relativos das presas, e aplica aos peixes em geral um padrão estabelecido previamente com base em estudos para apenas duas espécies (Ursin 1973). Assim, podemos confirmar, baseados em registos da FishBase 97, que os peixes preferem presas com cerca 1/3-1/4 do seu tamanho, e que uma presa com metade do tamanho "preferido" está sujeita a ser ingerida do mesmo modo do que uma com o dobro do tamanho habitual.

Estes dois gráficos podem também ser utilizados como referência para excepções, (por ex. Fam. Eurypharyngidae) podem consumir peixes com um tamanho superior ao seu; ou filtradores e herbívoros, que consomem presas de tamanho inferior ao seu em várias ordens de magnitude.

Referência

Ursin, E. 1973. On the prey preference of cod and dab. Medd. Danm. Fisk. Havunders. N.S. 7:85-98.

Daniel Pauly

 


Fig. 34. Comprimento do predador em função do comprimento da presa de diversas espécies de peixes. Consulte a caixa 24.

 
Como chegar lá

Chega-se à tabela PREDADORES clicando no botão Biologia na tabela ESPÉCIES, no botão Ecologia trófica na tabela BIOLOGIA, e no botão Predadores na janela ECOLOGIA TRÓFICA. Note-se que se clicar duas vezes em qualquer linha da lista predador obterá esse registo específico na tabela PREDADORES. Os gráficos das relações predador-presa estão acessíveis no botão gráfico na tabela PREDADORES ou na janela GRAPHS.

 
Referências

Collette, B.B. and C.E. Nauen. 1983. FAO species catalogue. Vol. 2. Scombrids of the world. An annotated and illustrated catalogue of tunas, mackerels, bonitos and related species known to date. FAO Fish. Synop. (125):137 p.

de Luca, F. 1988. Taxonomic authority list. Aquatic Sciences and Fisheries Information System. Ref. Ser. No. 8, 465 p.

Ebert, D.A., P.D. Cowley and L.J.V. Compagno. 1991. A preliminary investigation of the feeding ecology of skates (Batoidea: Rajidae) off the west coast of southern Africa. S. Afr. J. Mar. Sci. 10:71-81.

Hardy, J.D. 1993. NODC taxonomic code links biology and computerized data processing. Earth System Monitor 4(2):1-2.

Hensley, V.I. and D.A. Hensley. 1995. Fishes eaten by sooty terns and brown noddies in the Dry Tortugas, Florida. Bull. Mar. Sci. 56(3):813-821.

Hiatt, R.W. and D.W. Strasburg. 1960. Ecological relationships of the fish fauna on coral reefs of the Marshall Islands. Ecol. Monogr. 30(1):65-126.

Mathews, F.D., D.M. Damkaer, L.W. Knapp and B.B. Collette. 1977. Food of western north Atlantic tunas (Thunnus) and lancetfishes (Alepisaurus). NOAA Tech. Rep. NMFS SSRF –706. 19 p.

Meyer, M. and M.J. Smale. 1991. Predation patterns of demersal teleosts from the Cape south and west coasts of South Africa. 2. Benthic and epibenthic predators. S. Afr. J. Mar. Sci. 11:409-442.

Randall, J.E. 1967. Food habits of reef fishes of the West Indies. Stud. Trop. Ocean. Miami 5:665-847.

Scott, W.B. and E.J. Crossman. 1973. Freshwater fishes of Canada. Bull. Fish. Res. Board Can. 184:966 p.

Tokranov, A.M. and V.V. Maksimenkov. 1995. Feeding habits of predatory fishes in the Bol’shaya River estuary (West Kamchatka). J. Ichthyol. 35(9):102-112.

Uchida, R.N. 1981. Synopsis of biological data on frigate tuna, Auxis thazard and bullet tuna A. rochei. NOAA Tech. Rep. NMFS Circular 436. FAO Fish. Synop. No. 12. 463 p.

Maria Lourdes D. Palomares e Pascualita Sa-a