A Tabela EXPEDIÇÕES
Durante o século que se seguiu à publicação da 10ª edição do Systema Naturae de Linneus (1758), as expedições científicas marítimas constituíram para os europeus a principal fonte de conhecimentos de espécimes de plantas e de animais não europeus. De facto, a importância passada das expedições científicas marítimas não pode ser hoje descrita sem fazer referência às viagens espaciais, os seus análogos contemporâneos quanto à tecnologia empregue e ao prestígio dos cientistas implicados.
Assim, de meados do séc. XVIII aos finais do séc. XIX, as marinhas dos principais países europeus tinham, ao menos, um navio, consagrado à exploração da Oceania, das Américas, da África e da Ásia, e a fornecer aos museus europeus os espécimes convenientemente conservados dos organismos estranhos que encontravam.
|
||||||||||||||
Esta tarefa era geralmente partilhada entre os capitães dos navios, formados para a navegação e a exploração e os naturalistas competentes que acumulavam frequentemente funções de cirurgiões, todos eficazmente secundados pelos outros oficiais e equipagem.
A expedição mais célebre foi a viagem do H.M.S. Beagle (1831-1836), dirigida pelo irascível capitão Fitzroy, tendo a bordo Charles Darwin como naturalista de facto (Jenyns 1842; ver também o quadro 10). Outras expedições comentadas por Lesson (1830-31; França), Kner (1865-67; Áustria), Peters (1877; Alemanha), ou Vinciguerra (1898; Itália), representam exemplos do esforço efectuado por algumas potências europeias além daGrã-Bretanha.
Com o decorrer dos anos, estas expedições tornaram-se mais sofisticadas, e a do Challenger (1872-1876) explorou tantos domínios nas ciências marinhas, que é frequentemente considerada como o início da oceanografia como ciência moderna (Bayer, 1969).
|
||||||||||||||
As espedições científicas marinhas continuaram durante o século XX, sobretudo nos Estados Unidos (ver, p. ex., Thompson 1916). Com o estabelecimento de institutos de investigação modernos nas suas ex-colónias, as expedições distantes conduzidas por um só navio, foram gradualmente substituídas por projectos mais locais, ou no extremo oposto, por campanhas complexas, implicando a actividade coordenada de vários navios de numerosos países diferentes, como p.ex., a Expedição Internacional do Oceano Índico (1959-1965; Zeitschel 1973). Finalmente, as campanhas de arrastos sistemáticos tornaram-se durante os anos 60, as fontes mais importamtes de conhecimentos novos sobre a biodiversidade nos peixes, e continuam a sê-lo (Pauly 1996).
As primeiras expedições, as quais depois se puderam juntar as expedições terrestres, p.ex., a de Lewis e Clark na Luisiana (Mooring 1996), foram cruciais no desenvolvimento da Ictiologia e no aumento das colecções ictiológicas. Com efeito, estima-se que a maioria dos alguns 10 milhões de amostras de peixe conservadas nos museus mundiais proveêm, de uma maneira ou de outra, de expedições. Como estes espécimes de peixe compõem a maioria dos peixes descritos na FishBase, pensamos que será útil ligar estes espécimes às espedições onde foram capturados.
Numa base de dados biológicos séria sobre peixes, ou sobre qualquer outro grupo de organismos, não é possível contornar Charles Darwin, que forneceu o fundamento intelectual para muito do que fazemos como biólogos.
Darwin trabalhou com vários grupos zoológicos, tais como, os corais, os patos, as orquídeas, os vermes, mas não consagrou nenhum dos seus livros ou artigo exclusivamente aos peixes. No entanto, supervisionou a publicação da obra sobre os peixes que foram recolhidos durante a viagem do H.M.S. Beagle (Jenyns 1842), e utilizou os peixes para ilustrar numerosos dos seus novos conceitos, entre eles o da selecção sexual, ilustrada em Darwin (1877) por diversas espécies de peixes que possuem evidente dimorfismo sexual.
Enquanto esperam por um tratamento exaustivo destes ricos ensinamentos (Pauly, em prep.) e a incorporação da viagem do Beagle na tabela EXPEDIÇÕES da FishBase, os utilizadores da FishBase 99 já podem visualisar alguns dos peixes descritos por Darwin, clicando sobre o botão fotografias da janela MENU PRINCIPAL e procurando por Fotógrafo/Artista Hawkins B. Waterhouse, 45 das espécies que desenhou (64 desenhos actualmente presentes na FishBase).
Referências Darwin, C. 1877. The descent of man: section in relation to sex. (2nd edition). John Murray, London.
Jenyns, L. 1842. Fish, In: C. Darwin (ed) The zoology of the voyage of H.M.S. Beagle, under the command of Captain Fitzroy, R.N., during the years 1832-1836. Edited and superintended by Charles Darwin. Smith, Elder & Co., London.
Pauly, D. (in prep.) Darwin's fishes: a dictionary of ichthyology, ecology and evolution.
Daniel Pauly
A tabela EXPEDICÕES, introduzida pela primeira vez na FishBase 99, torna estas ideias efectivas e uma rotina WinMap junta as estações amostradas durante uma determinada expedição documentada na FishBase. E mais, uma rotina resume e apresenta as informações-chave colectadas durante uma expedição ou um estudo.
A tabela principal EXPEDIÇÕES contêm os seguintes campos:
o nome da expedição (curto) sob o qual é correntemente conhecida, independentemente do seu nome oficial (longo);
o nome do capitão e do cientista principal, desde que estejam identificados;
o nome do navio e o seu comprimento (em metros), ou o do navio principal no caso duma expedição conduzida por vários navios (como no caso do HMS Beagle);
as localidades (data, ano, País, latitude e longitude) de partida e de chegada duma expedição (ou a primeira e última estação);
o código de referência da narração principal, a publicação que relata a viagem no seu conjunto;
um campo de escolha múltipla indica a extensão do tratamento na FishBase: completo (ou quase); incompleto e fragmentário. Note que o tratamento indicado diz respeito apenas aos peixes e não aos outros grupos ou dados abióticos;
um campo de notas para as informações que não estão incluídas nos campos anteriores. Por exemplo, pode ser aí indicado que uma expedição não foi exclusivamente conduzida a partir dum só navio, como no caso da expedição de Lewis e Clark.
A partir das tabelas EXPEDIÇÕES e OCORRÊNCIAS, a FishBase reconstitui parcialmente o trajecto da expedição e situa as estações de amostragem numa carta (clicar sobre o botão Map) e criar um relatório de expedição que compreende:
as informações da tabela EXPEDIÇÕES;
uma lista de todas as espécies recolhidas, por estação;
uma lista cronológica de todas as estações, com a sua posição, profundidade e outras informações.
Para aceder às informações da expedição, os países, as listas de espécies e as estações, clicar sobre os botões respectivos.
Clicar sobre o botão Relatórios na JANELA PRINCIPAL e depois sobre o botão Miscelânea na janela RELATÓRIOS PRÉDEFINIDOS e sobre o botão Expedições na janela MISCELÂNEA.
Poucas espedições estão já reportadas na FishBase 99, embora a tabela OCORRÊNCIAS já conte com bastante informação dum grande número de expedições.
Prevemos que a atribuição dum maior número das sinalizações de expedições contribuirá para a sua precisão, mas também a ajudar-nos a documentar um número maior destas expedições. É uma maneira de pagar o tributo aos trabalhos impressionantes e às vezes heróicos realizados pelos cientistas, os seus oficiais e equipagens.
Estamos desejosos de colaborar neste assunto com todos os colegas que tendo interesse na história da ictiologia, em particular na reconstituição das principais expedições tais como a do Challenger. Contacte-nos se estiver interessado.
Bayer, F.M. 1969. A review of research and exploration in the Caribbean Sea and adjacent waters. FAO Fish. Rep. 71(1): 41-93.
El- Sayed, S.Z. 1994. History, organization and acomplishments of the BIOMASS programme, pp. 1-10. In: S.Z. Sayed (ed.) Southern ocean ecology: the BIOMASS perspective. Cambridge University Press, 399p.
Günther, A. 1880. Report on the shore fishes procured during the voyage of H.M.S. Challenger during the years 1873-1876, p 1-82. In: Report on the scientific results of the voyage of H.M.S. Challenger during the years 1873-1876. Zoology. Rept. Challenger Shore Fishes, 1 (pt6).
Jenyns, L. 1842. Fish, In: C. Darwin (ed) The zoology of the voyage of H.M.S. Beagle, under the command of Captain Fitzroy, R.N., during the years 1832-1836. Edited and superintended by Charles Darwin. Smith, Elder & Co., London.
Kner, R. 1865-67. Fishe. Reise der osterreichischen Fregatte Novara um die Erde in den jahre 11857-59, unter den Befehlen des Commodore B. von…
Lesson, R.P. 1830-1831. Poissons. P. 66-238. In: L.I. Duperrey . Voyage autour du monde,…, sur la corvette de Sa Majesté La Coquille, pendant les annés 1822, 1823, 1824, 1825….., Zoologie. Voyage Coquille, Zool. Vol.2 (pt1).
Linnaeus, C. 1758. Systema Naturae per Regna Tria Naturae secundum Classes, Ordinus, Genera, Species cum Characteribus, Differentiis Synonymis, Locis. 10th ed., Vol. 1. Holmiae Salvii. 824 p.
Mooring, J.R. 1996. Fish discoveries by the Lewis and Clark and Red River expeditions. Fisheries 21(7): 6-12.
Pauly,D. 1996. Biodiversity and the retrospective analysis of demersal trawl surveys: a programmatic approach, p. 1-6. In: D. Pauly and P. Martosobroto (eds). Baseline studies of biodiversity: the fish resources of western Indonesia. ICLARM Stud. Rev. 23.
Peters, W. (C.H.) 1877. Übersicht des wahrend der von 1874 bis 1876 unter dem Commando des Hrn. Capitan z.S. Freiherrn von Schleinitz augesfürthen Reise S.M.S. Gazelle gesammelten und von der Kaiserlichen Admiralitat der Koniglichen Akademie der Wissenschaften übersandten Fische. Monatsb. Akad. Wiss. Berlin, 1876: 831-854.
Thompson, W.F. 1916. Fishes collected by the United states Bureau of Fisheries steamer Albatross during 1888, between Montevideo, Uruguay, and Tome; Chile, on the voyage through the Straots of Magellan. Proc. U. S. Natl. Mus. 50(2133): 401-476.
Vinciguerra, d. 1898. I pesci dell'ultima spedizione del Capo Boteggo. Ann. Mus. Civ. Stor. Nat. Genova (Ser.2a), v.19, p.240-261.
Zeitschel, B. Editor. 1973. The biology of the Indian Ocean. Ecological Studies 3. Springer-Verlag, Berlin.
|